Lembro da última vez que minha mãe deixou minha casa.
Eu estava no sofá, ela saiu e quase não se despediu de mim, estavamos brigados por qualquer idiotisse adolescente.
Há muito tempo ela convivia com os sintomas que a levaram ao médico, outras visitas resultaram em remédios e motivos mal explicados, ao menos à criança que eu era. Ela nunca mais voltou.
Não me lembro quanto tempo durou, mas me dói mais que qualquer coisa no mundo lembrar de vê-la no hospital em Cachoeira, no quarto mais próximo da rua que sobe à casa de meu pai. De ir pra São Paulo e jogar talco nas costas que não mais sairiam da cama, de vê-la de cabelo curto, chorando ao nos despedir, de dizer que nunca a julguei uma mãe ruim.
E de receber a notícia no trabalho ao meio dia de uma sexta-feira de carnaval.
Eu sei que ela sofreu muito mais do que eu, sei que não sou o único a chorar por ela.
Eu daria um pedaço da mim, da minha vida pra revê-la, poder chorar no seu colo e saber se eu pude deixá-la feliz com tudo que fiz depois, e dizer que eu morro, mas eu nunca deixarei de ser filho de Gisele.